Oi gente!
Eu falei no começo da semana que a Maratona ia só até sexta-feira, mas resolvi estender até hoje. Faltou um pedaço super importante da história: a história do verdadeiro cangaço.
O cangaço foi um fenômeno que aconteceu entre o século XIX e início do século XX no Nordeste brasileiro. Simplificando bastante, era um movimento caracterizado por determinadas ações – geralmente violentas – de grupos ou indivíduos nômades, como sequestro de coronéis, assalto de fazendas e saqueamento de armazéns. Questões sociais e fundiárias são os grandes motivadores dessas ações. E por onde você pesquisar vai ver que há lutas justas, mas também há o puro banditismo. Conceitos como “bom” ou “ruim” então não são suficientes para classificar o cangaço.
Essa vida de párias e fugitivos das autoridades era facilitada pelo preparo desses grupos: conheciam as plantas medicinais, as fontes de água, locais com alimento, rotas de fuga e lugares de difícil acesso. Além disso, conheciam o interior do Nordeste como a palma de sua mão, se movimentando com destreza. Também eram bons de luta. E para completar, tinham aqueles nomes de guerra: Cabeleira, Corisco, Volta Seca, Sete Orelhas (nem queira saber o porquê do nome) e até Jesuíno Brilhante (existiu um!).
E se falamos de cangaço, falamos de Virgulino Ferreira da Silva, ou simplesmente Lampião, o cangaceiro mais famoso de todos os tempos. Antes de entrar para o cangaço, Virgulino trabalhava como artesão, era alfabetizado e usava óculos para leitura, características bastante incomuns para a região agreste e pobre onde ele morava. Mas tudo mudou quando seu pai foi morto em um confronto com a polícia. Ele jurou vingança e passou para o lado negro da Força. Se tornou uma figura controversa. Se por um lado a polícia o via como um criminoso terrível, por outro era visto como herói por boa parte da população. Novamente, difícil saber se alguém estava totalmente certo.
O fato é que Lampião morreu de uma maneira bem covarde. Seu bando e ele foram pegos desprevinidos pela volante, a polícia da época – que ele chamava de macacos – quando estavam em uma fazenda considerada um esconderijo de alta segurança. Não se sabe ao certo quem foi o traidor.
E eu não poderia falar de Lampião sem falar de Maria Bonita, sua namorada e cumpanheira de luta. Maria Gomes de Oliveira foi a primeira mulher a participar de um grupo de cangaceiros (será uma Dona Cândida da vida?). Conheceu Lampião aos 18 anos, depois de um casamento fracassado. Um ano depois, o Rei do Cangaço a chamou para entrar no bando, e lá viveram juntos por oito anos. Ambos morreram no mesmo ataque da volante. Mas quem diria? Tiveram uma filha, e a princesa do cangaço está viva até hoje! É Expedita Ferreira de Oliveira Nunes, que foi criada por um casal de vaqueiros amigos de Lampião e Maria Bonita. Hoje tem 78 anos de idade. Olha ela aí.
Quem assiste Cordel Encantado sabe que se tem coisa que faz um cabra do cangaço andar aperreado é uma mulher. Não raramente vemos uns cinco do bando, cada um no seu canto, sonhando com seu rabo de saia. Todo esse romance na tela – e na vida real – me lembra de uma música de Zé Ramalho (letra do poeta Otacílio Batista). A interpretação é das Três Meninas do Brasil: Rita Ribeiro, Teresa Cristina e Jussara Silveira. Se a música é bonita, a letra é uma poesia. Uma ode às mulheres que conquistaram o coração dos grandes conquistadores. E uma lembrança do enorme poder de uma mulher.
A mulher tem na face dois brilhantes
Condutores fiéis do seu destino
Quem não ama o sorriso feminino
Desconhece a poesia de Cervantes
A bravura dos grandes navegantes
Enfrentando a procela em seu furor
Se não fosse a mulher mimosa flor
A história seria mentirosa
Mulher nova, bonita e carinhosa
Faz o homem gemer sem sentir dor
Numa luta de gregos e troianos
Por Helena, a mulher de Menelau
Conta a história de um cavalo de pau
Terminava uma guerra de dez anos
Menelau, o maior dos espartanos
Venceu Páris, o grande sedutor
Humilhando a família de Heitor
Em defesa da honra caprichosa
Mulher nova, bonita e carinhosa
Faz o homem gemer sem sentir dor
Alexandre figura desumana
Fundador da famosa Alexandria
Conquistava na Grécia e destruía
Quase toda a população Tebana
A beleza atrativa de Roxana
Dominava o maior conquistador
E depois de vencê-la, o vencedor
Entregou-se à pagã mais que formosa
Mulher nova bonita e carinhosa
Faz um homem gemer sem sentir dor
Virgulino Ferreira, o Lampião
Bandoleiro das selvas nordestinas
Sem temer a perigo nem ruínas
Foi o rei do cangaço no sertão
Mas um dia sentiu no coração
O feitiço atrativo do amor
A mulata da terra do condor
Dominava uma fera perigosa
Mulher nova, bonita e carinhosa
Faz o homem gemer sem sentir dor
Encerro assim a nossa maratona! Espero que tenham gostado. 🙂
Abraço a todos =)